Por Vivaldo Simoneto - artista plástico

Sidnei Gonçalves Dias é um educador nato amante da capoeira, 31 anos, formado no cordel verde, amarelo, azul e branco. O profissional, que há sete anos trabalha com capoeira, já prestou serviços pela Brigadas do Trabalho e atualmente trabalha pela Prefeitura Municipal e desenvolve projetos de capoeira nas escolas públicas e bairros. O movimento capoeirista já existe há muito tempo em Assis Chateaubriand, hoje há quatro grupos ativos.
Segundo “Sabotage”, como é chamado no meio capoeirista, relata que a capoeira é bem vista e tratada pelo Poder Público. As apresentações dos grupos são restritas e não muito freqüentes, pois a maioria dos integrantes são menores de idade e exige uma atenção muito grande e muita responsabilidade, apenas em ocasiões especiais como “Natal”. “Assim como na época da escravidão, a capoeira hoje ainda não é bem entendida pela população por não conhecer o real valor e os benefícios (condicionamento físico e disciplina) que a capoeira traz a uma pessoa e para com a sua comunidade. Algumas pessoas ainda sem informações questionam a capoeira e isso acaba nos entristecendo, a capoeira é uma cultura ‘raiz’ , com vários elementos artísticos e que todos podem desfrutar, independente de classe social ou raça. Continuamos na luta, e aos poucos estamos conquistando o nosso espaço merecido”, desabafa Sabotage.
O preconceito em relação ao movimento capoeirista vem sendo debatido dia após dia, e cada vez mais ela está sendo implantada nas escolas, faculdades e em países estrangeiros. Esta que por sua vez é sempre mais valorizada, apesar de todo trabalho que vem sendo feito com a capoeira, a língua portuguesa também é bem valorizada, pois se torna obrigatória o uso da língua portuguesa nos golpes e cantigas.
“É gratificante trabalhar com as crianças, não há dinheiro que pague o sorriso de um aluno que aprende um movimento e se tem um retorno positivo, isso é muito bom pra quem é professor de capoeira. No meu grupo somos contra qualquer tipo de drogas e bebidas em excesso”, finaliza.
Atos como este de determinação, perseverança por uma causa em beneficio de tantos nos mostram como o movimento pode trazer um reconhecimento pessoal e a representatividade de uma cidade. Em Curitiba, no último dia 13, aconteceu o 5º Campeonato Interestadual Arte e Raça de Capoeira, que na oportunidade o aluno Lucas de Almeida, de apenas 12 anos, conquistou o primeiro lugar na categoria de 12 a 14 anos, tendo disputado com mais oitos meninos de sua categoria. Lucas teve o apoio do vereador Valcir dos Santos.
Considerada como uma expressão corporal e cultural, uma mistura de movimentos, dança, música e cultura popular, a capoeira surgiu do movimento afro-brasileiro, trazida de Angola para o Brasil logo depois do século 16 em várias regiões da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e ainda São Paulo. A capoeira “original” que era praticada na África era considerada sim uma luta, mas quando os negros aqui chegaram trazidos para trabalhar nos engenhos e no café, temiam seus senhores e começaram a incorporar a luta com cantos de sua terra, fazendo com que os movimentos obtidos na capoeira fossem ficando mais lentos e acompanhados do gingado de suas canções, fez com que se tornasse uma cultura, uma dança! Hoje, quem vê crianças, adolescentes e jovens jogando capoeira nas ruas jamais iriam pensar que um dia este “movimento” foi praticamente proibido no Brasil por ser uma expressão de raízes negras, sendo mal vista e interpretada com perigosa. O motivo desta proibição é proveniente de más interpretações que a sociedade já tinham a respeito da capoeira, e chamavam bandidos e malfeitores de “capoeiras”, após a libertação dos escravos muitos negros libertados não tinham como sobreviver e acabaram na marginalidade. Já no século 19 o “movimento” foi proibido por muito tempo. O Presidente Getúlio Vargas resgatou esta “identidade” como um novo conceito para a sociedade convidando um grupo de capoeira para se apresentar oficialmente no Palácio do Catete, assim a capoeira voltou a ser praticada no Brasil.
Muitas pessoas gostam até acham muito interessante, até entendem ser puro folclore, longe de ser confundida com artes marciais (a capoeira apenas simula uma luta e existe interação e respeito com o parceiro) e que a capoeira é um tipo de esporte de muita qualidade e que exige do participante muita habilidade e esforço. O problema é que justamente os professores não têm nem lugar pra praticar e divulgar o movimento, muitos acreditam que a capoeira não é bem vista pela sociedade, porque seus movimentos simulam passos de lutas e incentivam indiretamente a violência, e que isso pode afetar de alguma forma toda uma sociedade. Mas tudo depende de vários fatores que possam estar em volta desse “movimento”, como por exemplo, o comportamento, classe social, mídia "background" familiar, e a opinião da sociedade, embora a capoeira seja um movimento capaz de tirar muitas crianças e adolescentes das ruas e das drogas.
A capoeira, além de estar sendo “vista” de maneira equivocada, pode e deve ser entendida como uma arte, um folclore, uma dança! O gingado é a base da capoeira. É um movimento ritmado que mantém o corpo relaxado e o centro de gravidade em constante deslocamento. A partir do gingado surgem os outros movimentos de ataque ou contra-ataque. Os jogadores nunca estão parados e isso torna a capoeira muito bonita de se ver.