quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Diário de um automóvel

Sou bonito, prático e veloz feito de lata e fibra, tenho quatro pés e dois braços e até quatro, no meu interior é muito confortável e acomoda perfeitamente no máximo seis pessoas, no passado fui um personagem de luxo em que poucos tinham condições em me adquirir, agora me tornei tão popular que sou o sonho de consumo para muitas pessoas; imagine que muitos até passam a vida se dedicando, poupando para me comprar, pagam aluguel a vida toda mas não se desfazem desse sonho! Fui inventado para facilitar suas vidas, mas se esqueceram disso! Sou muito querido entre eles e tem quem diga que sou uma outra família pra cuidar, as vezes me dão mais valor do que uma pessoa da própria família. Começam comprando um “velho” mas querem chegar a um 0km, a época muda as pessoas mudam e com elas as maneiras de viver, o meu design sempre está em mudança todo ano um lançamento novo, mas se esquecem que eu sou sempre o mesmo, continuam me usando como “máquina mortífera”.
As pessoas são obrigadas a tirar seu “passe livre”, estudam fazem aulas, aprendem tudo certinho, mas quando estão comigo, fazem tudo errado! Sou potente e tenho que respeitar limites de velocidade no máximo 60km por hora, eu deveria ser guiado na mão correta de circulação, mas muitas vezes arriscam uma contra-mão colocando em risco suas próprias vidas! Tenho dispositivos que comandam o meu funcionamento geral, embreagem, acelerador e freios!
Tenho lanternas e setas que deveriam ser usadas quando necessário, mas muitos a deixam ligadas. Ao meu redor existem vários como eu, tantos que chegam a possuir em média dois automóveis por família, meus companheiros de trânsito são diversos, incluindo os quem eu mais deveria respeitar os ciclistas e os pedestres, mas...eu sozinho não saio do lugar! As vezes estes ciclistas me atrapalham um pouco quando andam em grupos no meio da pistas, cai entre nós alguns realmente abusam mesmo! E os pedestres que andam no meio da rua, ao invés de estarem andando nas calçadas, tenho que me ver em apuros para não atropelá-los isso quando quem está me guiando tem esta consciência. Eu gostaria muito de respeitar os meus limites, mas parece que eles querem cada vez mais ver até onde eu posso ir, então eu me transformo em uma poderosa “arma engatilhada” arriscando vidas alheias e a de quem está me guiando.
Mas o que eu posso fazer? Parado na garagem não apresento risco algum, mas quando colocam a chave na ignição e me ligam, me tiram bem devagarinho para não me arranhar no portão, mas quando estão nas ruas esquecem que posso me arranhar em postes, muros, arvores e até dar umas capotadas por ai ou então machucar alguém na rua, que não é muita novidade!
Eu não penso assim apenas queria facilitar suas vidas mas parece que estão sempre com pressa, nos dias de chuva então é uma loucura...todos resolvem sair ao mesmo tempo se suas casas atrasados e com pressa, param em frente aos colégios e deixam as portas abertas até mesmo pra bater papo, tem uma das coisas que eu não gosto é que me usem para jogar lama nas pessoas que estão na rua em dias de chuva! Ah sabem aquelas faixas brancas que tem nas ruas...é isso mesmo a faixa de pedestre, muito poucos param nelas para as pessoas atravessarem, ou quando param ...em cima delas e as pessoas não tem como passar! Me usam para fazer “rachas” para ver quem é mais veloz!Eu não sou assim, mas me usam para matar, onde sempre na maioria das vezes acabo indo pro ferro velho e nem sobra ninguém pra contar a história! Enfim este é meu diário, não sou tão mau assim...são os humanos que estão na direção e me transformam em uma “máquina mortífera”...ah...meu nome? Desculpe...falei tanto que me esqueci de dizer meu nome...meu nome é Automóvel.

Autor: Vivaldo Simoneto
Artista Plástico

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